Senjutsu

Em japonês a palavra significa em uma tradução livre “tática e estratégia“, mas também é o nome do novo álbum do Iron Maiden.

Com o lançamento para o dia 3 de setembro, o ODZ conseguiu surrupiar uma cópia do CD debaixo do travesseiro de Steve Harris (o baixista e tirano da banda, para os leigos) e desde ontem estamos ininterruptamente escutando sem parar e o tempo todo pra ver qualé…

As artes com o Eddie (o mascote, para os jovens mancebos) com temática samurai ficaram do caralho, com uma versão 3D no vídeo da música Writing on The Wall.

Mas tá tudo muito bonito e muito cheiroso. E quanto às músicas? Pra quem teve sua adolescência inundada por material da banda, que até meados dos anos 2000 não tinha dado uma bola fora, o disco é uma decepção só.

Progressivo e pessoal

Com o passar do tempo as pessoas amadurecem, mudam seus gostos e na maioria das vezes se acalma. Foi o que aconteceu com o ícone máximo do Metal. O passo de muitas músicas – não que tenha ficado ruim – está mais lento, porém muitas vezes um pouco “tribal” ou com um ritmo diferente, com um certo “embalo“. Três músicas têm mais de dez fucking minutos, o que era exclusividade de bandas progressivas como Dream Theater ou Yes.

Introduções longas (uy) misturando instrumentos acústicos (baixo inclusive), solos dos três guitarristas e riffs intermináveisum após o outros em repetições desnecessárias – deixam bem menos tempo para Bruce Dickinson (o vocalista, para os imberbes) demonstrar sua arte. Que está…. estranha.

Bruce parece cantar com uma batata na boca, dá pra sentir a idade em sua voz, assim como o último álbum do Ozzy Osbourne soou (que AINDA não morreu porque as drogas tiveram uma overdose dele). Não que seu alcance absurdo esteja afetado, mas na faixa Stratego (do grego, estratégia…) por duas vezes se escuta o vocalista “falhando na missão” e backing vocals sem sincronia. Mas num mundo onde as gravações são perfeitas, quantificadas em computador e corrigidas à perfeição talvez seja a demonstração que as músicas sejam gravadas “ao vivo“, com todos gravando ao mesmo tempo e com poucas correções para pegar o espírito dos shows e entrosamento.

Muitas vezes compor músicas vem de múltiplas inspirações, epifanias sonoras e em sua maior parte de idéias avulsas gravadas ou anotadas que são montadas depois. Quando falta um trecho, uma ponte ou um pré-refrão todo músico tem seu arquivo pra usar nessas horasisso quando uma música inteira não surge disso

Ao vivo

Hoje em dia os artistas recebem sua grana mesmo é fazendo shows. O Napster destruiu a música, segundo Lars Ulrich (o baterista, para os ignóbeis na nobre arte do Metal) do Metallica.

Desde o advento da Internet as gravadoras estão se fodendo e fodendo à todos para receber o máximo possível de dinheiro, mas ainda se apresentar ao vivo é onde os músicos podem lucrar com sua arte e ter um contato direto (meet and greet são uma praga, um caça-níqueis) com os fãs.

Não há show do Maiden vazio

Apresentações energéticas, com todos cantando junto e conhecendo cada pedacinho das músicas e reagindo à elas são as características mais incríveis do Iron Maiden. Pra isso as músicas têm de ser acessíveis para um público mais, digamos, pop.

O que não parece acontecer nesse disco.

Com essas músicas longas e cheias de passagens instrumentais infinitas como o público reagiria num show? O passo das músicas mais lento também não ajuda e ficariam todos com cara de bolacha esperando? Músicos é que gostam desse tipo de onanismo sonoro e não se incomodam.

Em suma

Desde o álbum Dance of Death de 2003 não há realmente muita coisa memorável para o habitual fã de Metalpara os maníacos como eu lembramos de cada faixa até dos discos ruins – e o veio progressivo que surgiu na gravação seguinte A Matter of Life and Death de 2006 ficou no som da banda.

A gravação é cheia, pesada e fabulosa. Kevin Shirley (o produtor, para os que não sabem nem amarrar os sapatos) mixou o álbum (como vários dos mais recentes) de maneira magistral e é considerado o “sétimo Maiden” – alusão ao “quinto Beatle” quanto à George Martin – mas nem assim torna o disco fácil de ser digerido ou cria novos fãs da banda.

A idade bate à porta e às vezes é melhor parar no augenão que eu queira! – e creio que todos os integrantes deveriam focar em carreiras-solo, pois são mais idéias, público e quem sabe um reset no conceito da banda. Mas Iron Maiden sempre será o porto seguro do Metal, por mais que não gostem da banda.

Menos o Harris, ele é chato demais no British Lion.

[UPDATE] Faixa-a-faixa

Senjutsu – Ritmo tribal e arrastado, pra 8:21 é longo pra cacete, mas tem uns riffs com melodias interessantes.

Stratego – Na pegada de Maiden Moderno™ galopado. Refrão chiclete com o Bruce lá no alto e um tecladinho que deu “plus a mais” pra música e melodia estranha à banda adicionando personalidade. Memorável e por mim entra no rol das tradicionais.

The Writing on The Wall – Com clip da hora pra caralho, é a música “Bon Jovi” do disco (que é BEM pareceida com a Till The Day I Die do Halford). Digna da carreira solo do Bruce com o Adrian Smith. É de longe a melhor do álbum.

Lost in A Lost World – Longa e arrastada, com intordução acústica e cheia de repetições Teletubbianas dos riffs entre solos. Metallica anda fazendo isso desde o Death Magnetic – joga um monte de idéia num espaço de tempo e chama de música – me parece falta de sentido no quesito música ou preguiça.

Days of Future Past – Dramática no refrão, depois o andamento aumenta e fica interessante, dois climas. Final dramático e acelerado com o mesmo tema.

The Time Machine – Música BEM diferente do Maiden tradicional. Tom maior e melodia animadinha.

Darkest Hour – Melancólica e refrão emocionante com progressão cromática interessante. O solo mais bonito de Dave Murray. Tem praia.

Death of The Celts – Baixo acústico. Dois minutos de intro. Música forte e lá pela metade (depois dos primeiros solos) melodias que foram vomitadas por um leprechaum surgem e pintam uma paisagem dançante, celtas morrem. É uma versão de 10:21 da The Clansman.

The Parchment – A mais longa do disco. Algo egípcio no ar. Alguém abre um pergaminho. Riffs com uma tensão recheada de teclados, que podiam ser cortados pela metade em termo de tempo. Vocais interessantes e final da hora pra caralho com solos em andamento rápido e areia – só escutando dá pra entender.

Hell on Earth – Intro com riff bonito, longo mas é bom de ouvir. Base galopante tradicionale riffs três minutos e meio antes de começar o vocal, mas estranhamente não achei maçante como nas outras músicas. Refrão muita legal e com uma cara do Virtual XI. O som cheio predomina nessa música com tensão em lugares certeiros e emoção lembrando algo do Somewhere in Time equilibrando o tema. Dois minutos de fade-out não é algo muito comum pra terminar uma música.

Author: Eric Mac Fadden