Antes tínhamos apenas discos, fitas ou mais recentemente CDs para escutarmos música. As fitas foram um “pesadelo” às gravadoras, pois as mesmas tinham campanhas pra afirmar que gravar fitas era pirataria e que queriam enxugar até o último centavo das vendas de discos. Mas a mixtapes eram rainhas em seu tempo – assim como quando gravar CDs se tornou praticável.
Sem contar as mídias graváveis, o recurso era escutar um álbum inteiro, dentro da idéia dos músicos e com coesão – muitas gravações eram conceituais e necessitavam de todo o conjunto para passar a mensagem. A dificuldade em mudar de disco toda música auxiliava esta prática, onde só havia a pausa para mudar de lado do LP ou já trocava o disco, se tornando um ritual.
Daí meu hábito de apenas escutar álbuns inteiros.
No caso dos CDs – se você tivesse di$po$ição – poderia programar o CD Changer entre os discos, o que demorava milênios se cada faixa fosse dum CD diferente. O que depois tornou-se obsoleto com o advento dos gravadores da mídia.
A Internet mudou radicalmente nossos hábitos da apreciação musical. Assim como o vídeo matou as estrelas do rádio.
No início era apenas o caos. Kazaa, eMule, Napster e até mesmo via mIRC as músicas lentamente eram trocadas entre usuários, e depois vieram os torrents – para até hoje ser o pesadelo de todos que comercializam qualquer coisa digitalmente – bastava apenas uma pessoa comprar um CD que logo o mesmo estava disponível online e de graça ao alcance de todos. O que causou furor na época.
Compre online
E com toda essa facilidade deram um jeito de começar a vender digitalmente as músicas, para tirar o peso da consciência de quem estava “matando” seus artistas favoritos e legalizar a prática online – como se há tempos eles recebessem muita coisa das gravadoras, e hoje praticamente pagam à elas para gravar e divulgar seus álbuns.
Mas obter músicas online facilitaram outro hábito que persistia desde os tempos das fitas K7: montar uma coleção de faixas individuais.
O termo “mixtape” ainda é usado mas o termo correto é “playlist” e por mais abominável escutar música assim seja ao meu ver, a facilidade é absurda e com o streaming se tornou tão simples e mais fácil quando baixar um arquivo para o consumo. Principalmente na música pop.
Vejamos agora o Top 10 da Billboard:
Basicamente lixo tóxico não? Claro que sim, já que a música – e tudo que é relevante à cultura – se tornou algo para fácil consumo e volatilidade extrema. E essas mesmas “músicas” são consumidas como? Individualmente, com apenas uma idéia rasa e vaga orbitando apenas envolta de seu umbigo. Uma obra tosca e rápida, para um fugaz momento onde meia dúzia de sinapses são ativadas por três ou menos minutos.
Porém não temam paladinos do bom gosto!
Apesar de ser um hábito velho e em pleno desuso, a audição de álbuns completos ainda existe e está enraizada nos estilos contemporâneos que outrora foram de vanguarda e símbolo de mudança: Rock e Metal.
Ainda são os que mais consomem mídias físicas – vindo da prática de coleções, onde adoram se rodear por memorabilia de seus artistas prediletos – e obviamente pelo teor mais consistente nas obras, com músicas que passam alguma mensagem mais relevante ou que causa sensações mais profundas e intensas (uy), se tornando uma experiência que cada vez menos pessoas conseguem ter.
O Top 10 dos álbuns mais vendidos fisicamente nos EUA são povoados não impressionantemente pelo estilo – menos pelo lixo coreano do BTS, que daqui poucos anos se não for constantemente reciclado pela troca de membros mais jovens, irá cair no esquecimento adolescente que já é, lembram de New Kids On The Block, NSync e Backstreet Boys? – e parece que não irão mudar este velho hábito:
#1 @BTS_twt
#2 @thebeatles
#3 @Metallica
#4 @QueenWillRock
#5 @fleetwoodmac
#6 @pinkfloyd
#7 @acdc
#8 @Nirvana
#9 @foofighters
#10 @ledzeppelin
Mesmo com a “sujeira” no topo, o conceito de obras musicais mais concisas ainda deixa sua marca, mas cada dia que passa se torna mais e mais raro.
Fonte: Loudwire