Ao menos dois episódios foram consumidos com a voracidade e atenção aos detalhes dignos de um nerd obsessivo por mim e a esposa até uma da manhã. Dificilmente assisti algo com um sorriso na cara tão imóvel a cada momento óbvio que não sei como me deixou livre de cãibras faciais agora de manhã.
Até o momento apenas as partes pouco libidinosas achei um pouco divergentes da franquia, que são bem sucintas mas estão lá. Curioso pra ver os experimentos de cada vault mostrada e alguma horda de feral ghouls pra animar as coisas quando estiver tudo bem. Já vi um Yao Guai – um urso mutante com origem chinesa – e as armaduras T-60 ficaram impecáveis.
São tantos detalhes que beira o absurdo, e nenhum me decepcionou. Walton Goggins brilha a cada cena que aparece com sua até então dualidade na história que se passa no ano de 2219 – entre os jogos Fallout (2161) e Fallout 2 (2241).
Uma guerra entre a China e os Estados Unidos se tornou iminente, e esta tensão é muito clara na cultura dos “anos 50 movidos à energia nuclear onde as pessoas têm menos noção do perigo do que deveriam“. Eis que em 23 de outubro de 2077 esse conflito sino-norteamericano se concretizou envolvendo bombardeios nucleares múltiplos nos dois países, fazendo com que as conseqüências se espalhassem para o mundo todo e principalmente aos aliados de cada lado.
A Vault-Tec é uma empresa subsidiada pelo governo americano para a construção de vaults – basicamente abrigos-cofres onde a humanidade poderia prosperar enquanto aguardaria pacientemente o fallout passar, e finalmente emergiriam para a reconstrução da América – porém ninguém contava que a esmagadora maioria, senão todos, dos vaults seriam apenas laboratórios para experimentos científicos e sociais com as pessoas como ratos de laboratório. Com o tempo se leva a pensar que sua criação fora para apenas este intuito, demonstrando a Vault-Tec como sorvedora de recursos públicos “em nome da ciência“, e não como salvadora da pátria.
Todo jogo da franquia começa em um vault (menos o Fallout New Vegas, que apesar do início em um, realmente começa numa cova rasa) por motivos de tutorial e distribuição de pontos como em todo bom RPG.
No mundo aberto pós-apocalíptico as possibilidades são enormes para se desenvolver a própria história, o personagem e sua índole. As escolhas são constantes nos jogos fazendo com que a imersão seja enorme e se crie laços com sua criação ou até mesmo NPCs. E principalmente após o jogo ter sido feito em 3D no Fallout 3, tudo isso se tornou mais marcante e importante para o jogador.
Enfim, é uma história complexa cheia de simplicidades de um mundo futurístico bobo, onde há uma certa inocência da maioria das pessoas e que só acorda após uma hecatombe de onde o mundo não se reergue e é o lugar que existe para sobreviver, hostil e maravilhoso ao mesmo tempo, com um senso de desolação e comunidade que nenhum outro game já tenha proporcionado. Por isso quem é fã, trata a franquia com carinho e mesmo após tropeços crassos (sim Fallout 76, é de você que estou falando) e se torna um sonho em nossas mentes mesmo que não queiramos sua realização. A identidade visual também é indubitavelmente uma das mais peculiares e com personalidade dos últimos tempos, impecavelmente demonstrada pelo que assisti ontem.
Poderia ficar escrevendo por horas sobre os jogos e seus ínfimos detalhes, nuances, histórias encontradas e vividas pelos personagens ou não (achamos inúmeros documentos em cartas e computadores). Descrever as marcas de alimentos, carros, eletrodomésticos e tudo lidado com extrema importância pros enredos, enfim um universo tão rico quanto de Tolkien, porém “contemporâneo“.
Espero que não defequem na série, que está fabulosa até então.