Bruna não foi sempre Bruna, quando era pequena a família a chamava de Biba, Bibinha para os avós uma netinha loira e rechonchuda de olhos azuis.
Apesar de vir de uma família tradicional, o pai tinha uma indústria têxtil e terras no Sul onde a família gostava de passar as férias. Mas a vida de Bruna nunca foi fácil.
De caráter forte, o pai de Bruna exigiu que a filha começasse cedo na empresa da família e no cargo mais baixo. Educação européia clássica.
Nada de namoradinhos ou escapada com as amigas para Bruna. Mas isso não a incomodava. A menina começou como ajudante geral, foi mostrando seu valor e subindo cada degrau sem ajuda.
Na mesma época os amigos de Bruna estavam fazendo ego trips pela Europa, bancados pelos pais em nome da busca de sua arte individual.
Ainda assim, como toda adolescente de sua época Bruna passou pela fase negra do rock nacional. Tinha um Gradiente no quarto (Coisa de gente rica) onde ouvia Legião, Capital Inicial e Paralamas.
De um lado a garota tinha as benesses de uma família rica, mas de outro a obsessão do pai em tornara única filha digna do legado da família se traduzia em um quarto com uma coleção gigantesca de bonecas vindas do mundo tudo, o templo onde Bruna recuperava a infância perdida.
Então Bruna vivia duas realidades. Princesa em casa e plebéia no trabalho. Mas a personalidade forte da garota a fez conseguir transitar entre os dois mundos sem precisar de terapia.
Formou-se em Administração aos vinte e dois anos, recebeu o diploma fitada pelos olhos marejados do pai orgulhoso.
Pediu só uma coisa – Nenhuma festa. Considerava isso um desperdício. Além do que ela tinha uns relatórios mensais da empresa para revisar. – O Pai atendeu – mentalmente ele dizia: Essa é minha menina! Uma verdadeira Fontana! Nosso legado está salvo!
Em três anos Bruna fazia parte do conselho diretor, tinha comprado seu apartamento, um carro e dois gatos.
Bruna lia muito, mas não gostava de viajar. Tirando umas viagens para Europa e China, coisa estritamente comercial e custeada pela empresa.
Quando perguntavam porque ela não tirava férias ou viajava mais, Bruna ria de forma dócil e dizia: O Sol que brilha lá. É o mesmo sol que brilha aqui.
Quando as cobranças sobre casamento e filhos, começaram lá pelos vinte e cinco anos ela dissuadia a todos dessas idéias malucas apresentando os planos de expansão para a empresa para família. Coisa para trinta ou quarenta anos à frente. E o assunto morria.
Bruna era uma garota focada. Foi treinada para ser focada nos objetivos e tolerar todo o resto em volta.
O tempo passou tão rápido que Bruna em se deu conta que chegou a ter uma alma e uma inocência. Está vivendo a vida na moral.
À noite em casa, deitada em sua cama King com seus gatos. Bruna se pegava olhando para o teto branquinho e pensando na velhice. Fazia na cabeça as contas do aporte na previdência privada e do repasse para o plano de saúde que tem até remoção área inclusa.
Bruna adormecia sonhando com os finais de semana na fazenda da família. Todos reunidos com A Nona tocando piano.
Tudo tinha valido a pena, ela ia ficar bem. Lá fora no frio da pracinha logo em frente ao condomínio uns Hippies fumavam uns baseados enquanto faziam miçangas. O frio era vencido com álcool. Viver da própria arte era gelado.
Por Hal