Audiofilia é uma doença difícil de tratar, você joga dinheiro nela e ela só cresce. Tudo é caro e você sempre tem de ter mais e mais.
Porém com o tempo – se você amadurecer – aprende a apreciar o som e suas nuances reais, descobre como tirar o melhor som de equipamentos nem tão bons assim e regular por conta os que já tem. Suas bugigangas de áudio se tornam seus pets. Uma hora você se desprende de ilusões e aproveita algumas tecnologias sem ou com menor preconceito, no caso falo do Bluetooth e do cancelamento de ruído.
E foi 85% pelo cancelamento de ruído (Noise Cancelling) que adquiri este pequeno bólido, caro pra burro mesmo usado (em estado além do impecável) porém me permitiu adentrar em uma nova fase da vida: A Paz de Espírito™.
Vivo em uma avenida, porém há uma pizzaria ao lado que inicia suas atividades às 2:30 com funcionários que berram como símios no cio em meio ao verão na savana, situação da qual não adiantou reclamar, chamar polícia e nem mesmo berrar de volta há dois anos e meio. E vão de segunda à segunda até 23:30.
Aproveitei a oportunidade de um nobre colega possuir tal item que hoje me gera sossego, cuja predileção por tais fones havia cessado e lhe propus a aquisição. Ele topou.
Recursos
Usando por duas semanas seguidas, pude explorar tudo que é recurso útil do dispositivo. Primeiramente testei o NC – o que deixou minha esposa pistolaça da Silva porque eu não entendia o que ela falava no primeiro dia – então descobri a função de apenas tampar a concha direita com a mão que os microfones ligam e escuto o ambiente melhor do que apenas desligar o recurso, nem preciso tirá-lo da orelha. Stonks!
Trabalhar se tornou prazeroso e produtivo novamente – inclusive na produtora.
Aí me enveredei pela função que todo audiófilo ou metido à audiófilo torce o nariz: o Bluetooth. Até então o melhor que havia experimentado fora o Bose Q35 de primeira geração, que na época usava codec terrível e os celulares também não eram grande coisa no quesito. Fiquei embasbacado com a qualidade do som, principalmente com a função DSEE ligada – que tenta recuperar as perdas geradas pela recompressão – com o recurso desligado dava pra perceber claramente a compressão dos arquivos que eram lossless (FLAC) em 70% do tempo, já ligado às vezes eu percebia isso, porém ele dá uma normalizada no som, aumentando o que é de volume mais baixo perdendo um pouco a dinâmica e comprimindo o áudio num bloco sonoro. Mesmo assim, fica ótimo. Ele suporta os codecs da Apple (AAC), A2DP e da Sony (LDAC) para maior qualidade, meu celular felizmente suporta os A2DP.
Os gestos feitos na concha direita são uma mão na roda e demorei um dia só pra acostumar onde que eu arrastava pra mudar de faixas, volume ou parar e tocar novamente. Esse último item possui um recurso maneiro e supimpa, pois com um sensor localizado na concha esquerda ele detecta quando está com os fones, removendo-os ele para de tocar, basta colocar de volta que reinicia a música. Usei muito!
O cancelamento de ruído é programável automaticamente dependendo de sua localização (pareado com o smartphone, claro), detectando qual local você está (em casa, trabalho, rua) e otimizado após um escaneamento de sua orelha com a câmera do celular via o app (que é muito bom e extremamente customizável) para melhorar o silêncio para sua alma.
Acima do botão de power há o botão Custom, que define os presets de NC ligado/desligado, monitoração do ambiente – se alguém falar automaticamente liga os microfones para escutar a pessoa – e mantendo pressionado ajusta-se o ambiente conforme o ruído do local, bem rapidamente e se mostrando muito útil como configuração manual para o NC.
O som
Aqui é uma parte dos fones que me decepcionou um pouco em partes. Como fones BT os achei muito bons, já como wired medianos que só soaram melhor na interface de áudio no PC.
Temos aqui um mal do mundo moderno: fones Bluetooth são equalizados e otimizados com seu próprio amplificador, os tornando virtualmente o par perfeito, mas quando usamos nossos equipamentos preexistentes ou mesmo direto no celular as fraquezas se mostram nuas, peladas e sem roupa. Quando ligado o NC aciona a amplificação dos fones também, e não é pra piorar o som.
Usando todos os dias com NC ligado (não no BT), sua bateria durou por umas cinco rotações terrestres. Com o BT durou três.
Mas ele não é ruim! Acostumei demais com a minha referência – o Kuba Disco, que é meu favorito até agora em termos de áudio – então tive de “baixar o standard” um pouco para apreciar o som. E ele está todo lá: graves e subgraves bem profundos e definidos, médios que passam como faca quente na manteiga e os agudos e médio-agudos suaves e precisos, como todos os detalhes ali. Bastou dar um tapinha no equalizador que o “ar” que tanto acostumei no Kuba surgiu magicamente e voilá: apreciei o som dos Sony e me redimi ante sua qualidade.
E um detalhe: ele é CONFORTÁVEL PARA UM CARALHO VOADOR. Nem parece que usava os fones, e sua construção é fabulosa, não se ouve um “crec” no plástico de alta qualidade de que ele é feito. Além disso é dobrável e cabe em seu hard case Lindo e Cheiroso™ também de construção e materiais ímpares. Desse jeito fico mal acostumado.
Acompanham o cabo para apreciação audiófila real, USB-C para o carregamento e um adaptador para avião com 2x P2 mono de saída est´éreo para os fones.
Vejam mais no site da Sony e caia pra trás quando virem o preço. Agora ele não sai mais de casa.