Sou fã do senhor Bayley Alexander Cooke. Sua voz tem um poder de uma betoneira batendo o mais denso dos cimentos e a força de cinco gorilas africanos brigando por uma fêmea à beira do rio Zambezi. Mas a idade chega e outros problemas também, e apesar da luta constante em ser o mais injustiçado dos ex-vocalistas do Iron Maiden (Paul Di’Anno era e sempre foi um junkie que arrumava problemas) ainda tenta construir uma carreira-solo à toque de caixa e tocando em lugares com meia dúzia de espectadores.
Dono de uma voz grave, não se adequou nem à fase “obscura e depressiva” da banda e foi vítima de um álbum mal planejado, visivelmente mal composto em sua maioria e com uma mixagem de corar qualquer engenheiro de som, mas agora chego ao meu ponto do post: a mixagem.
Logo no início, nas partes com apenas a capella, se nota uma estranheza na voz enquanto sustenta uma nota – uma de suas marcas registradas aliás – onde um efeito digital fica “pulando” como se fosse um loop para promover o efeito que até outrora, executava com uma maestria que só ele. O vocalista convidado (Niklas, da banda Wolf) também possui uma batelada de efeitos e correções em suas partes.
A bateria está tão sampleada que é basicamente um cadáver na música com basicamente 0% de timbres originais, o instrumento mais pasteurizado que consigo ouvir. Guitarras não me parecem ter sido gravadas via microfone num amplificador, mas diretamente de plugins na DAW (Digital Audio Workstation) imitando os gabinetes com os alto-falantes, um plugin bem furreca diga-se de passagem.
Mas agora vem a pior parte: a quantização. Tudo é asséptico e correto, demais até. O processo se consiste em se editar os instrumentos um a um para se encaixarem num grid de tempo certinho, perdendo a naturalidade e a crueza da música, matando a performance original e se tornando música pop atual. Isso não é Rock’n’Roll.
Mas vou levar em consideração a falta de recursos e a luta que ele tem para sobreviver depois de ter sido expurgado pela cena mesmo com o grande talento irrepreensível de suas cordas vocais e um recente infarto, que o fez perder bastante peso e se exercitar regularmente. Produção barata e desesperos financeiros como o da “música” abaixo apenas mostram como a vida foi difícil pra ele.
Mesmo assim, há poucos anos produziu uma trilogia de álbuns conceituais fabulosos – que sempre ouço – com uma história de ficção científica muito boa e momentos maravilhosos. Ainda com isso não obteve reconhecimento e voltou ao underground, onde é amado por fãs que jamais desistirão dele.
Agora contemplem sua bela voz SEM quaisquer corretores automáticos:
Aqui o vídeo foi gravado nos simuladores de vôo da empresa de nada mais nada menos Bruce Dickinson, o atual vocalista do Iron Maiden que Blaze substituíra nos anos 90:
O post pode parecer uma crítica mas não ao artista, porém sim à indústria da música onde tudo é “muito fácil” e péssimos profissionais podem ser mais uma pedra no caminho de surgirem novos talentos reais, com instrumentos reais e tosqueira real, matando a humanidade da música por mais um front. Bem avisou o Messias de Silício.