Nossa imaginação e vontade de seguir à frente é sempre impulsionada pela busca do ideal, da sociedade perfeita, do objetivo impecável, da melhora. O mundo atual se tornou estagnado e chato porque deixamos de ter mistérios no dia-a-dia e tudo é perfeitamente explanável ou aceitável em algum nível de lógica racional.
Pasmem quando eu – o denominado ateuzinho de merda, agnóstico de padaria, satanista de boutique – venho lhes afirmar que infelizmente religiões são necessárias por três motivos básicos por causa do comportamento humano: senso de pertencimento, obedecimento cego por preguiça e necessidade de mistério.
Somos animais sociais, portanto é de suma importância toda essa interação com outras pessoas (ou bolas de vôlei, dependendo da sua situação em ilhas desertas) senão nosso macaco interior pira. Gerir uma vida já é difícil, imagine ser tão auto-suficiente ao ponto de manejar sozinho toda sociedade ao seu redor. É coisa para pouquíssimos. Por isso que a esmagadora maioria das pessoas (eu, você, quase todo mundo mesmo) precisamos de uma governança – que em níveis ideológicos, pode ser uma religião ditando o que fazer ou não sem ter de criar sua própria moral e bom senso.
E agora temos a necessidade mais idiota das três: a dúvida, a falta de conhecimento, o mistério.
Este é um ponto que acaba por nos fazer pensar e ponderar, querer investigar e possuir um objetivo, uma função que nos fora imbuída por algum alien brincalhão numa visita aos neandertais ou algo assim, instigante e que nos faz ir à frente por causa de algo que não entendemos. E criar ficções e cenários absurdos é um resultado disso.
Em tempos de racionalidade começamos a perseguir a otimização e criação de uma sociedade perfeita, onde os erros que nós mesmos cometemos são suprimidos por sistemas basicamente automáticos – onde maus comportamentos são simplesmente impossíveis aos olhos de seus criadores – e toda vez que algo assim é aplicado na realidade, ganhamos comunismo, totalitarismo, cristianismo, islamismo, judaísmo, capitalismo e vários outros “ismo” que são reflexos dessa busca milagrosa por uma utopia.
Porém sabemos de antemão – graças aos experimentos sociais supracitados e às obras ficção – que por nossa natureza de símios ansiosos, é algo intangível.
Então por que não criarmos distopias onde estas sociedades perfeitas são subvertidas ao caos controlado e quase que ao mal em sua mais pura forma? Porque estas já existiram/existem (estamos em uma agora) por causa das conseqüências de querer se criar perfeição a partir de nossa mais-do-que-falha humanidade, mas não temos uma amostra real do que seria uma anti-utopia: basicamente funcional como uma utopia bem azeitada, só que ao contrário.
E vendo como as utopias e suas formas invertidas não permitem erros ou deslizes, trejeitos ou personalidades individuais, posso afirmar que estas são mais reais do que poderíamos imaginar, são retratos dos sonhos molhados de totalitaristas – de líderes soviéticos à detentores de recursos infinitos que desejam se tornar marcianos.
Como vivemos em uma distopia, as esperanças e saídas para uma sociedade melhor são esmagadas pelo ciclo massacrante do dia-a-dia nesse estilo social. Utopias são sonhos como afirmei, mas não necessariamente precisam ser sonhos de ditadores ou cientistas malucos, podem ser do homem comum – que labuta num rolo compressor ideológico 6X1 por 35 anos que não tem previsão de deixar de ser uma engrenagem funcional até sua morte, onde deuses ditam como se comportar – mas que em devaneios possa achar soluções de escapar deste ouroboros vicioso, onde às vezes basta sair da curva para achar uma solução para um problema.
Basta querer criar algo.