Não irei falar sobre pen drives com formato duvidoso, mas sim em armazenamento de “formato duvidoso”, mas que todos usamos diariamente como mágica: a nuvem.
Esta semana presenciamos o pesadelo da maioria das pessoas dependentes da Internet: um incêndio em data center. O fogo em Estrasburgo na França onde um dos seus quatro servidores fora totalmente destruído e outro danificado deixou milhões de sites fora do ar e um jogo com uma base grande de jogadores à deriva.
O jogo é baseado em sobrevivência e é online, totalmente dependente do server. Os desenvolvedores do jogo perderam alguns dias mas após uma corrida contra o tempo e conta telefônica astronômica, conseguiram vencer a acirrada corrida por um servidor e recuperaram o status online, já que milhares de outras pessoas estavam desesperadas correndo atrás de um para cobrir seu prejuízo.
Agora lembram (alguns) como tínhamos um preciosismo quanto nossos arquivos baixados – “legalmente” – da Internet? Das horas baixando um mísero mp3 ou aquela pasta marota como fotos de anões besuntados em azeite de dendê montados em cavalos? Aí os arquivos “para sempre” gravávamos em CDs, DVDs e posteriormente em drives externos, mas sempre perto de casa (onde o drive C: está).
Hoje nos acomodamos. Precisamos de filmes, há serviços na nuvem. Música? Spotify e Tidal estão na nuvem. Fotos pra executar montagem da Selena Gomez num Corsa 2002? Nuvem!
Nem os preciosos arquivos que guardávamos à sete chaves escaparam do advento do armazenamento online. Muita coisa já era desde os primórdios guardada em nuvem – antes de ser chamada assim – como os próprios sites, e se você precisasse ter acesso a esses arquivos 24/7 fora de casa, dá-lhe PCzão ligado o tempo todo e o relógio de luz à toda.
Hoje nos acomodamos muito com essa idéia de nuvem, se tornando uma ferramenta útil para acessar arquivos de onde estiver, jogar sem mídia física de qualquer lugar e até trabalhar com uma equipe sem sair do lugar. Porém isso nos tornou mais dependentes ainda da conexão com a Internet – esta que nem sempre é boazinha conosco – e aquele acesso de raiva pelo wifi ter caído durante o save do projeto se tornou parte do dia-a-dia.
Suas fotos da última viagem que fez – provavelmente pré-março de 2020 – provavelmente estão lá no Google Photos ou no iCloud e que jamais serão vistas novamente, apenas ocupando espaço dessas empresas que “encarecidamente” fornecem “espaço gratuito” para nós, reles consumidores de dados.
Emails infinitos? Não existe empresa boazinha. Dê seus dados (sim, lêem tudo mesmo negando isso) e seja “feliz”. Não há almoço grátis.
O mundo hoje é extremamente frágil em inúmeros aspectos, e quaisquer pontos que dêem errado provoca um enorme colapso e causa desastres. Assistindo a nona temporada do The Walking Dead há um exemplo exagerado de como a civilização é sensível – apesar de quase todos na série tomarem decisões terríveis que ferram tudo e todos – onde há pessoas que usam máscaras de defuntos para comandar uma horda de zumbis, e mesmo com três assentamentos prosperando – um até projetou um filme – são provocados pequenos percalços que minam a sanidade e confiança na civilização, criando caos.
Portanto transformando nossa vida em algo cada vez mais complexo com os computadores e Internet, além de sensibilizarmos essa já delicada estrutura em que baseamos nossa existência, também nos faz extrapolar nossos limites físicos – da mente, no caso – em lidar com os fatos e a vida, gerando estresse muitas vezes desnecessário.
A Internet é uma ferramenta à mão de todos amplamente mal-utilizada.
Voltando ao assunto: eu ainda baixo e guardo meus arquivos para não depender da Internet como se não houvesse amanhã. Ou até uma tempestade solar forte o suficiente para destruir todos os dados magnéticos ou eletrônicos da Terra.
Porque a civilização como a conhecemos não estará aí pra sempre. Em um estalo de dedos, podermos voltar a ser homens das cavernas.