As pessoas andam idiotas há tempos. Ontem cheguei em casa e passei no mercado ao lado à direita do prédio, mas precisava de outros itens que só consigo noutro então fui ao mercado à esquerda de casa (conveniente, não?), bastava atravessar a avenida.
O trânsito já crepitava às 17:45h e buzinadas aqui e acolá ecoavam pelos semáforos. Pessoas exaustas pipocavam como NPCs de Cyberpunk e se moviam erraticamente, muitas absortas em seus espelhos negros ou fones de ouvido. Sorte ser safo na rua e consigo sem problema nenhum chegar ao objetivo.
Observo logo na entrada uma pequena comoção de duas peruas (do tipo 60 anos e maquiagem pesada) descendo do carro numa estacionada digna de Ray Charles pedindo ajuda a um mendigo – este que acabara de passar por, resmungava sozinho pedindo dinheiro à si mesmo – pois seu pneu – o do carro – havia furado. Entro pelo portão oposto ao do estacionamento do mercado, desviando da situação.
Apenas duas coisas. Caixa. CPF na nota. Saio rapidamente e satisfeito, mastigando um Chokito que me premiei pelo árduo dia de trabalho. Passo pelo portãozinho observando de soslaio o que escalou para dois mendigos e a observação parte enojada, parte maravilhada, das duas senhoras do confuso trabalho que ambos estavam ao trocar o pneu do HB20. “Bem, acontece né?” – penso eu. Saí com a cabeça nas falas e sotaque irlandês da personagem que escolhi para jogar no Dead Island 2 – jogão, recomendo!
Na esquina adjacente ao ocorrido, justo em meu caminho, há um prédio de dentistas e um estacionamento aberto abarrotado de carros, e para minha sorte um mentecapto havia parado o carro meio na calçada e meio na rua, bloqueando os que potencialmente sairiam do estacionamento, mas não é meu problema. Ainda concatenando o característico balbuciar na mente, um gordinho com uma mochila enorme bloqueia meu caminho entre os carros estacionados e o parado no meio-fio. Aquela face rechonchuda estava enterrada a 10cm do celular, como só existisse isso na Terra. Dou uma jogada pra esquerda, ele balança pra esquerda, me viro à direita, o maldito dança mentalmente pro mesmo lado. De repente me irrito com a demência lipídica do energúmeno e com a boca meio cheia de Chokito mastigado vocifero: “Move, turdball!“
Mesmo assim ele nem se move e quase esbarro nele, o ocorrido todo mal somou três segundos. Aperto o passo, atravesso a avenida – quero o conforto e segurança do lar – e terminando de passar pelo semáforo que acabava de fechar atrás de mim, começo a pender à esquerda em direção ao prédio, meu porto seguro.
Não é que o turdball passa mais rápido pela esquerda, ainda com seus óculos grossos enfiados na tela do celular e sua mochila enorme – provavelmente cheia de cuecas passadas pela mãe – e me impede mesmo com passadas largas de chegar em casa. Desacelero e deixo o bolovo ambulante passar e ir seja lá pra que caixa de gordura ele tenha de retornar.
Chego em casa mezzo puto, mezzo rindo. Não havia pensado que eu acabava de xingar alguém em inglês na rua com um termo que tinha inventado na hora.
Turdball… hehehe…