Atmos meu ânus

A última pirotecnia para “imersão de som” agora é o tal de Dolby Atmos. Algo muito legal pra filmes e jogos, onde você costuma ficar parado em um lugar só, mas agora querem enfiar isso goela abaixo da música onde provavelmente 90% das pessoas acabam usando fones ou um celular – vulgo radinho de pilha – para apreciar seus artistas favoritos, provavelmente de maneira rasa e sem a atenção realmente necessária para tal.

Além do snake oil proposto, vem junto toda a sorte de recompra de aparelhos pois “são o futuro do áudio“, em se escutar música parado em uma sala específica com um equipamento específico parado em uma posição específica para finalmente, captar toda a imersão em três dimensões que a tecnologia tem a oferecer.

Ainnnn, você é hater só porque é novidade….

Sim e não, pois se não vejo motivos pra eu mudar a maneira que nossos ouvidos percebem áudio – principalmente música e da maneira que costumamos a ouvi-la, normalmente executando outras tarefas, projetos ou conversando – porém gosto da proposta para consumir outros tipos de mídia e aí que mora a minha linha de raciocínio: se o quadrafônico, o 5.1, Dolby Pro Logic e outras perfumarias praticamente só eram utilizados em salas de cinema ou em projetos previamente planejados para tal (envolvendo muita grana em equipamentos por sinal) e basicamente ficaram à míngua por tanto tempo, não vejo por quê o Atmos logo se tornar outra moda – útil e interessante – mas que agora é explorada pela indústria da música em remixes para isso numa tentativa dos grandes voltarem a ser relevantes e espremer mais alguns trocados de quem quiser usar seu novo sistema e sala preparados, com novos serviços de inscrições, discos codificados e por aí vai torrando seu pobre dinheirinho em algo que no máximo, será apreciado nem meia dúzia de vezes.

Além do mais, os estúdios teriam de se equipar novamente, se reciclar tecnologicamente – não que seja exatamente ruim – porém os valores disso tudo farão com que novas produções musicais se tornem mais caras e muitas vezes inalcançáveis a novos talentos ou bandas, diminuindo ainda mais a péssima diversidade que há na música atual. Mas quem é que quer parar o progresso, não é mesmo? No fim quem paga por aumentos é a empresa, não?

Tudo isso parece um joguinho planejado, não?

Música é algo mais dinâmico do que filmes ou jogos, onde a atenção tem de estar 100% focada no conteúdo – não que não seja praticado – porém socializamos com música e sua imersão creio estar além do que te jogam numa tela, A Experiência™ sensorial é bem diferente e estimula a imaginação e criatividade da mesma maneira, como em livros. Por isso que não gosto da idéia de fabricarem novamente algo que funciona, apenas para realocar os recursos das pessoas em luxos que em poucos anos, povoarão lojas de usados e mercados de pulgas online.

Author: Eric Mac Fadden